Um mês já!
Há um mês atrás eu passava pelo dia mais mágico, intenso e incrível da minha vida. O dia da chegada do meu pacotinho Eduardo. E passa um filme na cabeça relembrando o dia 13/02/2020! Inesquecível…
Às 05hs da manhã, eu acordei saindo líquido incontrolavelmente e fiquei toda molhada. Fui pro banheiro. Eu e o Fabiano começamos a nos perguntar: isso foi xixi que não controlei? Ou a bolsa estourou? Cadê o cheiro de água sanitária que todo mundo falava? Quanto de líquido saiu? E agora? Será que é hoje? Aquelas dores que eu sentia ontem com frequência eram os pródromos mesmo? Aquela vontade de urinar a cada 5 minutos no dia anterior era mesmo um sinal? É hoje que bebê escolheu pra nascer? A gente tinha tantas perguntas que nem dava pra raciocinar direito. Pensa, calma, inspira, respira….
Quem me conhece mais de perto sabe há quantos anos eu já pesquisava e procurava informações sobre parto humanizado e tudo o que ele envolve e representa. Um dos mais preciosos contatos com esse mundo foi com a minha maravilhosa psicóloga Dra Flávia Koeche, que em várias sessões de terapia me incentivou e me ensinou sobre a humanização. Logo no início da gestação, não tive dúvida. Era hora de colocar em prática tudo o que por anos me preparei e pesquisei. Por indicação da Dra Flávia, entrei em contato com a Doula Zezé, que prontamente me acolheu, me direcionou às etapas seguintes e me encheu de coragem. Ao sair da nossa primeira conversa com ela, perguntei ao Fabiano se ele topava a minha vontade de um parto domiciliar planejado. Lembro que me emocionei quando a resposta dele foi: “aquilo que tu tiver vontade de fazer, vou te apoiar” Eu e o Fabiano marcamos uma conversa com a Luiza e a Ana Terra, enfermeiras obstétricas da Parto Nascente, equipe especializada em parto domiciliar planejado, indicação da Doula Zezé. Começamos a participar das rodas de conversa da Parto Nascente, onde também conhecemos as demais integrantes da equipe, além da fotógrafa Mirella.
Os meses de gestação foram meses de muitos desafios, muito delicados e difíceis por estar gestando ao mesmo tempo que a Nana estava muito doente, mas também meses de muitas conversas, muitos encontros, muito acolhimento, muitos abraços. Eu e o Fabiano estávamos munidos de informação de qualidade e certos do que tínhamos escolhido: bebê surpresa (não sabíamos o sexo do bebê), além do parto domiciliar planejado e em segredo (familiares, amigos, ninguém tinha conhecimento da nossa decisão).
Voltando ao dia 13/02/2020…
Como eu já tinha sentido uns pródromos no dia anterior, toda equipe estava de sobreaviso. Liguei pra Doula Zezé às 06hs da manhã. Falei pra ela o que tinha acontecido e que estava com dores ainda suportáveis. Ela me acalmou, pediu pra monitorar e quando as dores aumentassem e pegassem ritmo era pra avisá-la novamente. Também pediu pra tentar descansar mais um pouco, tomar um café, comer algo e respirar. Avisei também a Luiza, nossa enfermeira obstétrica. Comecei a sentir vontade de ir no banheiro com frequência, indo a cada 20 minutos. Estava saindo muito líquido e o organismo limpando o intestino. Tentei dormir, não consegui. Umas 08hs, o Fabiano arrumou o café da manhã e eu fui pra bola de Pilates. Tentei comer um pouco, mas as dores já estavam mais fortes e próximas umas das outras. O Fabiano estava sempre do meu lado, contando as contrações em um aplicativo, me apoiando e me dando carinho. Entre uma e outra ida ao banheiro, ali pelas 10hs, avisei a Doula Zezé que as contrações tinham ritmado (estavam a cada 6 minutos e com um pouco mais de um minuto de duração). Ela avisou que logo chegaria na minha casa. Sim, estava acontecendo! Bebê escolheu esse dia pra nascer!
Antes das 11 horas, a Doula Zezé chegou em casa, me senti acolhida e me acalmei. A Luiza perguntou como estávamos, o Fabiano avisou que a Doula Zezé já estava em casa e que as contrações tinham ritmado. Então a Luiza avisou que logo chegariam também, ela e mais uma enfermeira obstétrica (elas sempre trabalham em dupla).
Enquanto isso, eu ainda estava alternando entre idas ao banheiro e bola de Pilates, as dores aumentando de intensidade e a Doula Zezé sugeriu que eu fosse para o chuveiro para ver se as contrações evoluíam. Foi o que fiz, comecei a vocalizar (baixo ainda, só um aaaaa tímido), fiquei nos quatro apoios, Fabiano entrou comigo e fez massagem nas costas, colocou uma corda na janela pra que eu puxasse, sentei na bola de Pilates de novo, mexi bastante o quadril.
Fiquei em várias posições, a dor aumentando e eu me conectando com o bebê e com meu corpo. Nisso, um pouco depois das 12:30 horas, a Luiza e a Fernanda (Parto Nascente) chegaram junto com a fotógrafa Mirella, que a Luiza lembrou de chamar. Me lembro de ter visto as gurias, dei oi, mas já estava ficando meio fora de mim. As contrações estavam a cada 2 ou 3 minutos e com menos de um minuto de duração. A Doula Zezé sugeriu sair do chuveiro, pois já fazia mais de 1:30h que eu estava lá. Saí, fui pro quarto e fiquei de joelhos na minha esteira de yoga, com as mãos sobre as costas de uma cadeira, enquanto que a Doula Zezé me fez uma massagem maravilhosa nas costas com um óleo muito cheiroso. A Luiza e a Fernanda me monitoraram e verificaram os batimentos cardíacos do bebê. O Fabiano me dava muito carinho e as mãos pra que eu pudesse apertar. As dores já estavam bem intensas e alguém sugeriu que eu entrasse na banheira. Vem, bebê!
Dali pra frente, fechei os olhos, me lembro de ouvir vozes, mas não prestava atenção em mais nada, só nas contrações. Me conectei com o meu corpo, com o que estava acontecendo e me entreguei. Não lembro da ordem dos acontecimentos depois disso. Sei que troquei de posição várias vezes, algumas meu corpo pedia, outras as gurias sugeriam. O tempo todo recebi muito carinho e muito apoio. A Doula Zezé colocava a mão dela no meu baixo ventre, numa forma que era mágica, parecia que diminuía as dores consideravelmente! Além disso, por várias vezes ela me encorajou e não me deixou desistir, ficava me dizendo que eu estava indo muito bem e que eu estava sendo maravilhosa, me acolhia e incentivava
quando eu dizia que não ia dar conta. Ela também inúmeras vezes pediu que eu direcionasse a força apenas para o ventre, para que eu tentasse relaxar os ombros, além de pedir pra que eu respirasse mais profundamente.
Certa hora, passou um filme na minha cabeça, lembrei da Nana, chorei. Outra hora, consegui conversar com as gurias sobre como eu estava. As enfermeiras de tempos em tempos monitoravam os batimentos do bebê e me davam o braço delas pra que eu pudesse apertar. Me ofereceram algo pra comer ou tomar, aceitei um copo de suco de laranja. Na banheira, as dores pareciam mais contínuas, mas menos intensas. Pedi pra ir no banheiro, estava com vontade de fazer cocô. Fiquei algum tempo sentada e não saiu nada, fiquei brava porque as gurias queriam que eu saísse dali e fosse pra outra posição, mas eu insistia que queria fazer cocô. Recebi aconchego da Doula Zezé e massagem do Fabiano. Aceitei ir pra banqueta, mas achei desconfortável, não achei posição e não consegui ficar muito tempo.
Fui pra outras posições, já vocalizando mais alto, dores aumentando. Briguei com a Luiza pra que ela fizesse um exame de toque (não é necessário fazer, além de ser desaconselhável), eu estava irritada e não fazia ideia de quanto que já tinha evoluído. Deitei na cama, contrações extremamente doloridas enquanto eu estava deitada. No exame de toque senti muito desconforto e muita dor. A Luiza confirmou que o bebê estava quase saindo, nem precisou verificar a dilatação. Vem, bebê!
Fui pro chuveiro de novo, já completamente imersa na partolândia, Fabiano fazendo massagem nas minhas costas, sendo acalentada pela Doula Zezé. Sentei na banqueta de novo, a Luiza estava na minha frente, a Fernanda me alcançou um rebozo (pano) pra que eu fizesse um cabo de guerra com ela. Só senti meu corpo exigindo que eu fizesse força, muita força. Mais alguns puxos bem fortes, as gurias pediram pra que eu trocasse de posição, custei a aceitar, não estava mais processando o que elas me diziam, ensaiei sair da banqueta, não respirei mais, só vocalizei muito alto e longo, me agachei. Mais alguns puxos muito fortes, senti o círculo de fogo e falei: fogo, fogo. Eu já não respirava, só gritava muito. O Fabiano e a Doula Zezé tentando me segurar, a Luiza tentando me lembrar de respirar, saí completamente de mim, virei bicho. Fiz muita força e de uma vez só bebê saiu completamente. Às 16:05 horas, bebê nasceu! E eu renasci!
Ele deu dois espirros, resmungou, fez um chorinho curto. A Luiza pegou ele e o colocou no meu colo. É um guri! Lembro de ter pensado: que roxo, meu Deus, e que cabeça feia nasceu meu filho… Entendi o poder da natureza, a cabeça dele modelada para passar pelo canal de parto. Ouvi o Fabiano emocionado atrás de mim. Respirei, tudo tinha passado, voltei a raciocinar.
As gurias perguntaram se eu conseguiria caminhar, fiquei de pé e com a ajuda delas fui com meu filho no colo até a cama, ele conectado ainda ao cordão pulsante. Me deitei na nossa cama, Fabiano ao lado, eu e ele estávamos
admirando e cheirando nosso pacotinho.
As gurias nos deixaram sozinhos um pouco. Passados alguns minutos, senti umas cólicas de novo, a Luiza entrou no quarto e avisei que estava com dor. Às 16:20hs, duas contrações fortes, a placenta nasceu.
Aproveitamos a “golden hour”, bebê mamando, nós trocando cheiros e aproveitando nosso bebê, que nem nome ainda tinha (ainda não tínhamos decidido, queríamos ver o rostinho primeiro).
Depois de mais de uma hora, as gurias fizeram as medições do bebê, me avaliaram e ajudaram o Fabiano a cortar o cordão. Bebê super calmo, não chorou, tudo certo com ele. Eu tive uma grande laceração, mas preferi não levar pontos. As gurias me deram um banho no chuveiro e fui pra sala. A Mirella fotógrafa ainda cozinhou pra mim um prato de comida que devorei rápido. Elas ficaram com a gente até depois de anoitecer, nos auxiliando, nos atendendo, nos respeitando.
Tudo o que queríamos foi atendido: livre movimentação durante trabalho de parto, bebê direto pro meu colo, banho tardio no bebê (eu e o Fabiano demos banho no bebê três dias após o nascimento), cordão cortado tardiamente, sem nenhuma violência obstétrica, sem procedimentos desnecessários, apenas pessoas conhecidas, Golden hour respeitada, bebê mamando desde a primeira hora, ou seja, todas nossas vontades respeitadas, como desejávamos.
Tenho certeza que escolhemos a equipe certa para nos atender. Doula Zezé foi extremamente essencial, certamente sem ela eu não teria conseguido! Luiza e Fernanda, que cuidaram tão bem de nós, sem palavras para agradecer tanto acolhimento! Mirella, que praticamente não vi durante o trabalho de parto e fez fotos tão cheias de sentimentos!
Registro nosso muito obrigada a todas! Vocês estarão sempre nas nossas lembranças e nos nossos corações! Vocês fazem parte da nossa família!
Foi dolorido demais, foi. Foi intenso demais, foi. Mas tenho certeza que foi a melhor forma de trazer nosso pacotinho pra esse mundo, da forma mais natural possível, cheia de amor, de carinho e de cuidado! Que dia! Meu Deus, muito obrigada por essa experiência incrível!
Um mês já!
Há um mês atrás eu passava pelo dia mais mágico, intenso e incrível da minha vida. O dia da chegada do meu pacotinho Eduardo. E passa um filme na cabeça relembrando o dia 13/02/2020! Inesquecível…
Às 05hs da manhã, eu acordei saindo líquido incontrolavelmente e fiquei toda molhada. Fui pro banheiro. Eu e o Fabiano começamos a nos perguntar: isso foi xixi que não controlei? Ou a bolsa estourou? Cadê o cheiro de água sanitária que todo mundo falava? Quanto de líquido saiu? E agora? Será que é hoje? Aquelas dores que eu sentia ontem com frequência eram os pródromos mesmo? Aquela vontade de urinar a cada 5 minutos no dia anterior era mesmo um sinal? É hoje que bebê escolheu pra nascer? A gente tinha tantas perguntas que nem dava pra raciocinar direito. Pensa, calma, inspira, respira….
Quem me conhece mais de perto sabe há quantos anos eu já pesquisava e procurava informações sobre parto humanizado e tudo o que ele envolve e representa. Um dos mais preciosos contatos com esse mundo foi com a minha maravilhosa psicóloga Dra Flávia Koeche, que em várias sessões de terapia me incentivou e me ensinou sobre a humanização. Logo no início da gestação, não tive dúvida. Era hora de colocar em prática tudo o que por anos me preparei e pesquisei. Por indicação da Dra Flávia, entrei em contato com a Doula Zezé, que prontamente me acolheu, me direcionou às etapas seguintes e me encheu de coragem. Ao sair da nossa primeira conversa com ela, perguntei ao Fabiano se ele topava a minha vontade de um parto domiciliar planejado. Lembro que me emocionei quando a resposta dele foi: “aquilo que tu tiver vontade de fazer, vou te apoiar” Eu e o Fabiano marcamos uma conversa com a Luiza e a Ana Terra, enfermeiras obstétricas da Parto Nascente, equipe especializada em parto domiciliar planejado, indicação da Doula Zezé. Começamos a participar das rodas de conversa da Parto Nascente, onde também conhecemos as demais integrantes da equipe, além da fotógrafa Mirella.
Os meses de gestação foram meses de muitos desafios, muito delicados e difíceis por estar gestando ao mesmo tempo que a Nana estava muito doente, mas também meses de muitas conversas, muitos encontros, muito acolhimento, muitos abraços. Eu e o Fabiano estávamos munidos de informação de qualidade e certos do que tínhamos escolhido: bebê surpresa (não sabíamos o sexo do bebê), além do parto domiciliar planejado e em segredo (familiares, amigos, ninguém tinha conhecimento da nossa decisão).
Voltando ao dia 13/02/2020…
Como eu já tinha sentido uns pródromos no dia anterior, toda equipe estava de sobreaviso. Liguei pra Doula Zezé às 06hs da manhã. Falei pra ela o que tinha acontecido e que estava com dores ainda suportáveis. Ela me acalmou, pediu pra monitorar e quando as dores aumentassem e pegassem ritmo era pra avisá-la novamente. Também pediu pra tentar descansar mais um pouco, tomar um café, comer algo e respirar. Avisei também a Luiza, nossa enfermeira obstétrica. Comecei a sentir vontade de ir no banheiro com frequência, indo a cada 20 minutos. Estava saindo muito líquido e o organismo limpando o intestino. Tentei dormir, não consegui. Umas 08hs, o Fabiano arrumou o café da manhã e eu fui pra bola de Pilates. Tentei comer um pouco, mas as dores já estavam mais fortes e próximas umas das outras. O Fabiano estava sempre do meu lado, contando as contrações em um aplicativo, me apoiando e me dando carinho. Entre uma e outra ida ao banheiro, ali pelas 10hs, avisei a Doula Zezé que as contrações tinham ritmado (estavam a cada 6 minutos e com um pouco mais de um minuto de duração). Ela avisou que logo chegaria na minha casa. Sim, estava acontecendo! Bebê escolheu esse dia pra nascer!
Antes das 11 horas, a Doula Zezé chegou em casa, me senti acolhida e me acalmei. A Luiza perguntou como estávamos, o Fabiano avisou que a Doula Zezé já estava em casa e que as contrações tinham ritmado. Então a Luiza avisou que logo chegariam também, ela e mais uma enfermeira obstétrica (elas sempre trabalham em dupla).
Enquanto isso, eu ainda estava alternando entre idas ao banheiro e bola de Pilates, as dores aumentando de intensidade e a Doula Zezé sugeriu que eu fosse para o chuveiro para ver se as contrações evoluíam. Foi o que fiz, comecei a vocalizar (baixo ainda, só um aaaaa tímido), fiquei nos quatro apoios, Fabiano entrou comigo e fez massagem nas costas, colocou uma corda na janela pra que eu puxasse, sentei na bola de Pilates de novo, mexi bastante o quadril.
Fiquei em várias posições, a dor aumentando e eu me conectando com o bebê e com meu corpo. Nisso, um pouco depois das 12:30 horas, a Luiza e a Fernanda (Parto Nascente) chegaram junto com a fotógrafa Mirella, que a Luiza lembrou de chamar. Me lembro de ter visto as gurias, dei oi, mas já estava ficando meio fora de mim. As contrações estavam a cada 2 ou 3 minutos e com menos de um minuto de duração. A Doula Zezé sugeriu sair do chuveiro, pois já fazia mais de 1:30h que eu estava lá. Saí, fui pro quarto e fiquei de joelhos na minha esteira de yoga, com as mãos sobre as costas de uma cadeira, enquanto que a Doula Zezé me fez uma massagem maravilhosa nas costas com um óleo muito cheiroso. A Luiza e a Fernanda me monitoraram e verificaram os batimentos cardíacos do bebê. O Fabiano me dava muito carinho e as mãos pra que eu pudesse apertar. As dores já estavam bem intensas e alguém sugeriu que eu entrasse na banheira. Vem, bebê!
Dali pra frente, fechei os olhos, me lembro de ouvir vozes, mas não prestava atenção em mais nada, só nas contrações. Me conectei com o meu corpo, com o que estava acontecendo e me entreguei. Não lembro da ordem dos acontecimentos depois disso. Sei que troquei de posição várias vezes, algumas meu corpo pedia, outras as gurias sugeriam. O tempo todo recebi muito carinho e muito apoio. A Doula Zezé colocava a mão dela no meu baixo ventre, numa forma que era mágica, parecia que diminuía as dores consideravelmente! Além disso, por várias vezes ela me encorajou e não me deixou desistir, ficava me dizendo que eu estava indo muito bem e que eu estava sendo maravilhosa, me acolhia e incentivava
quando eu dizia que não ia dar conta. Ela também inúmeras vezes pediu que eu direcionasse a força apenas para o ventre, para que eu tentasse relaxar os ombros, além de pedir pra que eu respirasse mais profundamente.
Certa hora, passou um filme na minha cabeça, lembrei da Nana, chorei. Outra hora, consegui conversar com as gurias sobre como eu estava. As enfermeiras de tempos em tempos monitoravam os batimentos do bebê e me davam o braço delas pra que eu pudesse apertar. Me ofereceram algo pra comer ou tomar, aceitei um copo de suco de laranja. Na banheira, as dores pareciam mais contínuas, mas menos intensas. Pedi pra ir no banheiro, estava com vontade de fazer cocô. Fiquei algum tempo sentada e não saiu nada, fiquei brava porque as gurias queriam que eu saísse dali e fosse pra outra posição, mas eu insistia que queria fazer cocô. Recebi aconchego da Doula Zezé e massagem do Fabiano. Aceitei ir pra banqueta, mas achei desconfortável, não achei posição e não consegui ficar muito tempo.
Fui pra outras posições, já vocalizando mais alto, dores aumentando. Briguei com a Luiza pra que ela fizesse um exame de toque (não é necessário fazer, além de ser desaconselhável), eu estava irritada e não fazia ideia de quanto que já tinha evoluído. Deitei na cama, contrações extremamente doloridas enquanto eu estava deitada. No exame de toque senti muito desconforto e muita dor. A Luiza confirmou que o bebê estava quase saindo, nem precisou verificar a dilatação. Vem, bebê!
Fui pro chuveiro de novo, já completamente imersa na partolândia, Fabiano fazendo massagem nas minhas costas, sendo acalentada pela Doula Zezé. Sentei na banqueta de novo, a Luiza estava na minha frente, a Fernanda me alcançou um rebozo (pano) pra que eu fizesse um cabo de guerra com ela. Só senti meu corpo exigindo que eu fizesse força, muita força. Mais alguns puxos bem fortes, as gurias pediram pra que eu trocasse de posição, custei a aceitar, não estava mais processando o que elas me diziam, ensaiei sair da banqueta, não respirei mais, só vocalizei muito alto e longo, me agachei. Mais alguns puxos muito fortes, senti o círculo de fogo e falei: fogo, fogo. Eu já não respirava, só gritava muito. O Fabiano e a Doula Zezé tentando me segurar, a Luiza tentando me lembrar de respirar, saí completamente de mim, virei bicho. Fiz muita força e de uma vez só bebê saiu completamente. Às 16:05 horas, bebê nasceu! E eu renasci!
Ele deu dois espirros, resmungou, fez um chorinho curto. A Luiza pegou ele e o colocou no meu colo. É um guri! Lembro de ter pensado: que roxo, meu Deus, e que cabeça feia nasceu meu filho… Entendi o poder da natureza, a cabeça dele modelada para passar pelo canal de parto. Ouvi o Fabiano emocionado atrás de mim. Respirei, tudo tinha passado, voltei a raciocinar.
As gurias perguntaram se eu conseguiria caminhar, fiquei de pé e com a ajuda delas fui com meu filho no colo até a cama, ele conectado ainda ao cordão pulsante. Me deitei na nossa cama, Fabiano ao lado, eu e ele estávamos
admirando e cheirando nosso pacotinho.
As gurias nos deixaram sozinhos um pouco. Passados alguns minutos, senti umas cólicas de novo, a Luiza entrou no quarto e avisei que estava com dor. Às 16:20hs, duas contrações fortes, a placenta nasceu.
Aproveitamos a “golden hour”, bebê mamando, nós trocando cheiros e aproveitando nosso bebê, que nem nome ainda tinha (ainda não tínhamos decidido, queríamos ver o rostinho primeiro).
Depois de mais de uma hora, as gurias fizeram as medições do bebê, me avaliaram e ajudaram o Fabiano a cortar o cordão. Bebê super calmo, não chorou, tudo certo com ele. Eu tive uma grande laceração, mas preferi não levar pontos. As gurias me deram um banho no chuveiro e fui pra sala. A Mirella fotógrafa ainda cozinhou pra mim um prato de comida que devorei rápido. Elas ficaram com a gente até depois de anoitecer, nos auxiliando, nos atendendo, nos respeitando.
Tudo o que queríamos foi atendido: livre movimentação durante trabalho de parto, bebê direto pro meu colo, banho tardio no bebê (eu e o Fabiano demos banho no bebê três dias após o nascimento), cordão cortado tardiamente, sem nenhuma violência obstétrica, sem procedimentos desnecessários, apenas pessoas conhecidas, Golden hour respeitada, bebê mamando desde a primeira hora, ou seja, todas nossas vontades respeitadas, como desejávamos.
Tenho certeza que escolhemos a equipe certa para nos atender. Doula Zezé foi extremamente essencial, certamente sem ela eu não teria conseguido! Luiza e Fernanda, que cuidaram tão bem de nós, sem palavras para agradecer tanto acolhimento! Mirella, que praticamente não vi durante o trabalho de parto e fez fotos tão cheias de sentimentos!
Registro nosso muito obrigada a todas! Vocês estarão sempre nas nossas lembranças e nos nossos corações! Vocês fazem parte da nossa família!
Foi dolorido demais, foi. Foi intenso demais, foi. Mas tenho certeza que foi a melhor forma de trazer nosso pacotinho pra esse mundo, da forma mais natural possível, cheia de amor, de carinho e de cuidado! Que dia! Meu Deus, muito obrigada por essa experiência incrível!