Lembro como se fosse hoje, aquela noite em que a desconfiança permeava na minha cabeça… será que estou grávida? Bom, no dia seguinte, bem cedinho, iríamos pra Floripa, visitar os compadres Regi e Luiza. Então achei melhor fazer o teste logo, pra viajar tranquila, e se desse positivo, já levaria a novidade pra eles, rsrsrsrs.
Fiz o teste, deixei-o em cima da pia, fui lavar as mãos e dei aquela espiadinha. Pensei: “não, acho que não”… (aparecia o segundo risquinho bem fraquinho). Chamei o meu marido, Lu, rindo, nervosa, desatinada, não sabia o que pensar. E ele também, disse: “não, não é nada, tá bem fraquinho…” Nós dois rimos, sem acreditar. E eu disse: “bom, fraco ou forte, se aparece dois risquinhos, é positivo”!! rsrsrsrs. “Sim, estou grávida”, repeti. A emoção tomou conta, não dormimos direito. E pela manhã bem cedinho, repeti o teste e deu positivo novamente. Sem dúvidas agora!
Na volta para casa, começamos a nos organizar com consultas, exames, rever e ver vídeos, documentários, textos. E surgiu uma roda de conversa para irmos, em POA. “Vamos, amor?” eu o convidei. E ele prontamente aceitou.
Aiiii, a primeira roda… nunca vou esquecer: todos sentados no chão, clima agradável, pessoas chegando e começa a apresentação. Conhecemos a doula Débora (que de cara nos identificamos), as EO’s Luiza e Ana Terra (que nunca imaginávamos que veríamos tantas vezes na vida, rsrsrs).
Bom, fomos a várias rodas, temas diversos, e após a segunda roda sobre o tema: parto domiciliar planejado, indo para casa o Lu olhou para mim, olhou para a barriga (com aproximadamente 24 semanas), colocou a mão sobre ela e disse: “Tu quer nascer em casa, filha?” Meu Deus, que momento!!! Era tudo que nós queríamos ouvir!
A partir desse dia, só falávamos disso. Optamos por não contar para ninguém sobre nossa escolha. Contatamos a equipe e nos reunimos para esclarecer as dúvidas. E continuamos indo as rodas de conversas, elas nos fortaleceram bastante.
Com 34 semanas iniciaram as consultas de pré-natal com a equipe de PDP. Fazia uma semana que eu havia retornado do meu estágio da Pós-graduação em Obstetrícia, estava ainda muito cansada e “ocitocinada”, rsrsrs. Após cada consulta de PN tínhamos mais certeza que havíamos feito a escolha certa de parir em casa. A equipe nos proporcionou muita informação, segurança e vínculo.
E numa manhã de terça-feira, último dia do mês de julho, dia ensolarado, mas muito frio; acordo toda molhada. Logo pensei que havia feito xixi, fui ao banheiro e percebi que era líquido amniótico. Logo pensei “Meu Deus, é hoje, é real, vai acontecer…” que mistura de sentimentos eu senti. Me deu taquicardia, suor frio, boca seca, uma sensação muito estranha. Fui tomar um café. Passei no quarto para tentar deitar mais um pouco, mas não consegui deitar, as cólicas eram fortes. Ao chegar à cozinha, senti a primeira contração. A segunda mais forte, dolorida. Não consegui fazer o café. Só conseguia me agachar a cada contração, isso aliviava a dor.
Avisei o Lu, que tinha saído pra trabalhar, e fui pro chuveiro com a bola que a doula havia deixado comigo. Ali fiquei até ele chegar. Ele trouxe flores, ficou comigo no banheiro, me beijou, me olhou com um olhar apavorado, mas tentando me passar tranquilidade e segurança. Começa a contar as contrações no aplicativo e mandava pra equipe como estavam. Pediu uma ala minuta pro almoço, mas nem eu nem ele conseguimos comer.
Em seguida chega nossa doula, Débora, com um abraço carinhoso e um olhar de empatia, sutilmente pede para eu caminhar pela casa. Com a presença dela consegui relaxar um pouco, acho que o Lu também, pois não estávamos mais sozinhos. Ela foi arrumar as flores pela casa, com os bilhetes de frases que havíamos deixado prontos, ficou lindo, delicado. E eu voltei para o chuveiro, fiquei muitas horas ali, era gostoso. Nos intervalos das contrações eu conversava com a Elisa (nossa filha), pedia pra ela vir, que estávamos prontos para recebê-la. Foi muito emocionante este momento, respeitoso também, pois estava acontecendo tudo naturalmente.
Saí do chuveiro, caminhei pela sala e quando vi, chegaram as EO’s Luiza e Ana Terra, e a fotógrafa Mirella. Me senti aliviada, mais segura. O cumprimento foi baixinho, lembro que olhei pra Luiza e disse: “isso dóóói”! E ela: “sim, é assim mesmo, vamos lá”! Fomos pro quarto para verificarem minha PA, batimentos do bebê, e estava tudo bem!
No quarto ainda, recebi da Débora e do Lu, massagem nas costas, quadril, recebi carinho, zelo, apoio. Em cima da cama estavam nossos cachorros Alfi e Pinta, eles participaram de tudo. A terceira canina da casa, a Preta, ficou mais pela sala, lá fora, até fugiu pra rua, mas logo voltou. A doula me lembrava da respiração. Uma das enfermeiras sugeriu um toque vaginal, eu aceitei. 7 cm, bem posicionada, tudo certo! É devagar mesmo… voltei pro chuveiro, comi algumas frutas e sempre estava bebendo muita água.
No chuveiro fiquei por horas, e os puxos chegaram de mansinho. Pensava: “é agora, vai!” ao mesmo tempo eu tinha dúvidas, cheguei a perguntar “será que ela vem logo?” eu enxergava pelo espelho que estava em baixo de mim, o “topinho” da cabeça da Elisa. Vi por horas, ela descia muito devagar, e estava tudo bem, batimentos sempre bons. Eu sussurrava: “vem filha, vem!”o Lu estava sempre comigo, eu segurava o rebozo que estava em volta dos ombros dele em cada agachamento. Por um momento ele pensou que iria aparar a Elisa ali mesmo, no chuveiro. Mas só foi um puxo mais forte, uma vocalização diferente. Até as enfermeiras, que estavam na sala/cozinha, vieram correndo nessa hora. A equipe sempre nos deixou muito a vontade, nos respeitava e na maior parte do tempo ficávamos sozinhos, nos entregamos intensamente nesse processo.
A noite se adentrou, eu não sabia que horas era, voltamos para o quarto, parecia que o chuveiro já não estava mais ajudando, precisava renovar as energias. Ana me deu homeopatia. O quarto estava quentinho, iluminado por velas, e eu não sabia mais o que fazer. Agachava, rebolava, dançava, caminhava, ergui uma perna, depois outra, e assim passavam mais algumas horas. Teve um momento em que deitei no chão para descansar, (o Lu achou que eu estava passando mal, ficou nervoso) mas a parteira disse: “está tudo bem, dá uma parada mesmo e ela está aproveitando pra descansar”.
Após o descanso, mais movimento, carinho da doula, e Ana fala baixinho pra mim que precisava sair pra avaliar outra gestante que estava em trabalho de parto, e que viria outra enfermeira (backup) no seu lugar, Izabel era o nome dela. Eu disse: “ufa, pensei que você iria me dizer que pensava em me transferir pro hospital; tudo bem então!” Eu não conhecia a Izabel, mas quando ela entrou no quarto, vi uma mãezona ali, parteira forte. Ela renovou a energia do ambiente e a minha também, fez um chá de canela bem forte, quente, colocou músicas xamânicas e disse pra eu pisar forte enquanto caminhava, dançava e chamava minha filha.
Logo comecei a sentir algo diferente, era o círculo de fogo iniciando. Avisei o que sentia e a equipe se posicionou. Luiza me ofereceu a banqueta, eu aceitei, parecia que eu não tinha força nas pernas pra aguentar em pé, nem de quatro apoios que eu já tinha testado. Me senti bem na banqueta. O Lu ficou atrás de mim, sentia o calor do seu corpo e sua emoção. Luiza estava na minha frente, uma mão segurei na Débora e outra na Izabel. Mirella eu não a enxerguei, nem sei como ela conseguiu tantos registros, pois estava muito escuro e apertadinho.
E a cada puxo Elisa vinha devagar, no seu tempo. Quando senti que a cabeça saiu por inteiro, segui fazendo força e saiu todo corpinho. Foi a maior dor que senti na vida, tenho até hoje na memória a dor do círculo de fogo. Também a maior realização e superação da minha vida. A primeira frase que consegui expressar “eu consegui”. Luiza a colocou no meu colo, pedi pro Lu pegar junto, pois parecia que eu não tinha forças pra segurar sozinha. Ele chorava muito, eu ria. Calminha, rosadinha, cheia de vérnix, foi abrindo os olhos e nos olhou por inteiro, estava iniciando o conhecimento/ reconhecimento dos seus pais.
Em seguida senti cólicas e desprende-se a placenta, naturalmente, comecei a sangrar, um pouco mais que o normal. Cordão precisou ser clampeado pro Lu segurar a Elisa e eu ir para cama. Recebi ocitocina intramuscular pra ajudar a contrair o útero e parar com o sangramento. Fui para cama com a ajuda de todas, o sangramento foi diminuindo, minha pressão baixou, mas logo normalizou. Recebi o carinho de todas, palavras acolhedoras que me deixaram emocionada! Durante todo esse tempo acontecia um pele a pele da Elisa com o pai, lindo de ver! Ah, eu pergunto que horas ela nasceu, e me retrucaram: “que horas você acha que é?” Pensei que era meia noite. “não, são 05h da manhã!!” Já era primeiro de agosto e o sol logo começou a aparecer.
Depois Elisa veio pro meu colo, cheirou o peito, lambeu e começou a sugar. Ficamos mais de uma hora no quarto, só nós três! Reconhecendo a cria, recebendo e dando amor um para o outro. Não conseguíamos tirar o olho dela, sobrancelha desenhada, bochechas rosadas, delicada, fofa, calma. Eu sentia uma força muito grande, consegui parir, e agora ela está aqui nos nossos braços! Que mágico!
As enfermeiras vieram avaliar meu sangramento, minha pressão e se houve laceração. Precisei de uns pontinhos, foi desconfortável, mas rápido. Elisa foi avaliada, pesada, e teve o cordão cortado pelo pai. Pesou 3.300g e 47 cm de comprimento. Tudo certo com nós. A equipe ficou mais umas três horas, aproximadamente,registrando, arrumando a casa, fizeram uma sopinha e também um chá. Cobriram o Lu que dormia no sofá. Me ajudaram a ir ao banheiro antes de irem embora. A equipe foi maravilhosa, nos cuidou, respeitou e deu carinho até o último minuto.
Depois que elas foram embora, eu e Elisa seguimos deitadas na cama, nos cheirando, olhando, conversando, ali a emoção tomou conta de mim e chorei. Chorei de emoção, de alivio, de gratidão, da certeza de que tínhamos feito a escolha certa em proporcionar um nascimento respeitoso, calmo e seguro no nosso lar. E dormimos juntas, o Lu continuou no sofá.
Lembro como se fosse hoje, aquela noite em que a desconfiança permeava na minha cabeça… será que estou grávida? Bom, no dia seguinte, bem cedinho, iríamos pra Floripa, visitar os compadres Regi e Luiza. Então achei melhor fazer o teste logo, pra viajar tranquila, e se desse positivo, já levaria a novidade pra eles, rsrsrsrs.
Fiz o teste, deixei-o em cima da pia, fui lavar as mãos e dei aquela espiadinha. Pensei: “não, acho que não”… (aparecia o segundo risquinho bem fraquinho). Chamei o meu marido, Lu, rindo, nervosa, desatinada, não sabia o que pensar. E ele também, disse: “não, não é nada, tá bem fraquinho…” Nós dois rimos, sem acreditar. E eu disse: “bom, fraco ou forte, se aparece dois risquinhos, é positivo”!! rsrsrsrs. “Sim, estou grávida”, repeti. A emoção tomou conta, não dormimos direito. E pela manhã bem cedinho, repeti o teste e deu positivo novamente. Sem dúvidas agora!Na volta para casa, começamos a nos organizar com consultas, exames, rever e ver vídeos, documentários, textos. E surgiu uma roda de conversa para irmos, em POA. “Vamos, amor?” eu o convidei. E ele prontamente aceitou.
Aiiii, a primeira roda… nunca vou esquecer: todos sentados no chão, clima agradável, pessoas chegando e começa a apresentação. Conhecemos a doula Débora (que de cara nos identificamos), as EO’s Luiza e Ana Terra (que nunca imaginávamos que veríamos tantas vezes na vida, rsrsrs).
Bom, fomos a várias rodas, temas diversos, e após a segunda roda sobre o tema: parto domiciliar planejado, indo para casa o Lu olhou para mim, olhou para a barriga (com aproximadamente 24 semanas), colocou a mão sobre ela e disse: “Tu quer nascer em casa, filha?” Meu Deus, que momento!!! Era tudo que nós queríamos ouvir!
A partir desse dia, só falávamos disso. Optamos por não contar para ninguém sobre nossa escolha. Contatamos a equipe e nos reunimos para esclarecer as dúvidas. E continuamos indo as rodas de conversas, elas nos fortaleceram bastante.
Com 34 semanas iniciaram as consultas de pré-natal com a equipe de PDP. Fazia uma semana que eu havia retornado do meu estágio da Pós-graduação em Obstetrícia, estava ainda muito cansada e “ocitocinada”, rsrsrs. Após cada consulta de PN tínhamos mais certeza que havíamos feito a escolha certa de parir em casa. A equipe nos proporcionou muita informação, segurança e vínculo.
E numa manhã de terça-feira, último dia do mês de julho, dia ensolarado, mas muito frio; acordo toda molhada. Logo pensei que havia feito xixi, fui ao banheiro e percebi que era líquido amniótico. Logo pensei “Meu Deus, é hoje, é real, vai acontecer…” que mistura de sentimentos eu senti. Me deu taquicardia, suor frio, boca seca, uma sensação muito estranha. Fui tomar um café. Passei no quarto para tentar deitar mais um pouco, mas não consegui deitar, as cólicas eram fortes. Ao chegar à cozinha, senti a primeira contração. A segunda mais forte, dolorida. Não consegui fazer o café. Só conseguia me agachar a cada contração, isso aliviava a dor.
Avisei o Lu, que tinha saído pra trabalhar, e fui pro chuveiro com a bola que a doula havia deixado comigo. Ali fiquei até ele chegar. Ele trouxe flores, ficou comigo no banheiro, me beijou, me olhou com um olhar apavorado, mas tentando me passar tranquilidade e segurança. Começa a contar as contrações no aplicativo e mandava pra equipe como estavam. Pediu uma ala minuta pro almoço, mas nem eu nem ele conseguimos comer.
Em seguida chega nossa doula, Débora, com um abraço carinhoso e um olhar de empatia, sutilmente pede para eu caminhar pela casa. Com a presença dela consegui relaxar um pouco, acho que o Lu também, pois não estávamos mais sozinhos. Ela foi arrumar as flores pela casa, com os bilhetes de frases que havíamos deixado prontos, ficou lindo, delicado. E eu voltei para o chuveiro, fiquei muitas horas ali, era gostoso. Nos intervalos das contrações eu conversava com a Elisa (nossa filha), pedia pra ela vir, que estávamos prontos para recebê-la. Foi muito emocionante este momento, respeitoso também, pois estava acontecendo tudo naturalmente.
Saí do chuveiro, caminhei pela sala e quando vi, chegaram as EO’s Luiza e Ana Terra, e a fotógrafa Mirella. Me senti aliviada, mais segura. O cumprimento foi baixinho, lembro que olhei pra Luiza e disse: “isso dóóói”! E ela: “sim, é assim mesmo, vamos lá”! Fomos pro quarto para verificarem minha PA, batimentos do bebê, e estava tudo bem!
No quarto ainda, recebi da Débora e do Lu, massagem nas costas, quadril, recebi carinho, zelo, apoio. Em cima da cama estavam nossos cachorros Alfi e Pinta, eles participaram de tudo. A terceira canina da casa, a Preta, ficou mais pela sala, lá fora, até fugiu pra rua, mas logo voltou. A doula me lembrava da respiração. Uma das enfermeiras sugeriu um toque vaginal, eu aceitei. 7 cm, bem posicionada, tudo certo! É devagar mesmo… voltei pro chuveiro, comi algumas frutas e sempre estava bebendo muita água.
No chuveiro fiquei por horas, e os puxos chegaram de mansinho. Pensava: “é agora, vai!” ao mesmo tempo eu tinha dúvidas, cheguei a perguntar “será que ela vem logo?” eu enxergava pelo espelho que estava em baixo de mim, o “topinho” da cabeça da Elisa. Vi por horas, ela descia muito devagar, e estava tudo bem, batimentos sempre bons. Eu sussurrava: “vem filha, vem!”o Lu estava sempre comigo, eu segurava o rebozo que estava em volta dos ombros dele em cada agachamento. Por um momento ele pensou que iria aparar a Elisa ali mesmo, no chuveiro. Mas só foi um puxo mais forte, uma vocalização diferente. Até as enfermeiras, que estavam na sala/cozinha, vieram correndo nessa hora. A equipe sempre nos deixou muito a vontade, nos respeitava e na maior parte do tempo ficávamos sozinhos, nos entregamos intensamente nesse processo.
A noite se adentrou, eu não sabia que horas era, voltamos para o quarto, parecia que o chuveiro já não estava mais ajudando, precisava renovar as energias. Ana me deu homeopatia. O quarto estava quentinho, iluminado por velas, e eu não sabia mais o que fazer. Agachava, rebolava, dançava, caminhava, ergui uma perna, depois outra, e assim passavam mais algumas horas. Teve um momento em que deitei no chão para descansar, (o Lu achou que eu estava passando mal, ficou nervoso) mas a parteira disse: “está tudo bem, dá uma parada mesmo e ela está aproveitando pra descansar”.
Após o descanso, mais movimento, carinho da doula, e Ana fala baixinho pra mim que precisava sair pra avaliar outra gestante que estava em trabalho de parto, e que viria outra enfermeira (backup) no seu lugar, Izabel era o nome dela. Eu disse: “ufa, pensei que você iria me dizer que pensava em me transferir pro hospital; tudo bem então!” Eu não conhecia a Izabel, mas quando ela entrou no quarto, vi uma mãezona ali, parteira forte. Ela renovou a energia do ambiente e a minha também, fez um chá de canela bem forte, quente, colocou músicas xamânicas e disse pra eu pisar forte enquanto caminhava, dançava e chamava minha filha.
Logo comecei a sentir algo diferente, era o círculo de fogo iniciando. Avisei o que sentia e a equipe se posicionou. Luiza me ofereceu a banqueta, eu aceitei, parecia que eu não tinha força nas pernas pra aguentar em pé, nem de quatro apoios que eu já tinha testado. Me senti bem na banqueta. O Lu ficou atrás de mim, sentia o calor do seu corpo e sua emoção. Luiza estava na minha frente, uma mão segurei na Débora e outra na Izabel. Mirella eu não a enxerguei, nem sei como ela conseguiu tantos registros, pois estava muito escuro e apertadinho.
E a cada puxo Elisa vinha devagar, no seu tempo. Quando senti que a cabeça saiu por inteiro, segui fazendo força e saiu todo corpinho. Foi a maior dor que senti na vida, tenho até hoje na memória a dor do círculo de fogo. Também a maior realização e superação da minha vida. A primeira frase que consegui expressar “eu consegui”. Luiza a colocou no meu colo, pedi pro Lu pegar junto, pois parecia que eu não tinha forças pra segurar sozinha. Ele chorava muito, eu ria. Calminha, rosadinha, cheia de vérnix, foi abrindo os olhos e nos olhou por inteiro, estava iniciando o conhecimento/ reconhecimento dos seus pais.
Em seguida senti cólicas e desprende-se a placenta, naturalmente, comecei a sangrar, um pouco mais que o normal. Cordão precisou ser clampeado pro Lu segurar a Elisa e eu ir para cama. Recebi ocitocina intramuscular pra ajudar a contrair o útero e parar com o sangramento. Fui para cama com a ajuda de todas, o sangramento foi diminuindo, minha pressão baixou, mas logo normalizou. Recebi o carinho de todas, palavras acolhedoras que me deixaram emocionada! Durante todo esse tempo acontecia um pele a pele da Elisa com o pai, lindo de ver! Ah, eu pergunto que horas ela nasceu, e me retrucaram: “que horas você acha que é?” Pensei que era meia noite. “não, são 05h da manhã!!” Já era primeiro de agosto e o sol logo começou a aparecer.
Depois Elisa veio pro meu colo, cheirou o peito, lambeu e começou a sugar. Ficamos mais de uma hora no quarto, só nós três! Reconhecendo a cria, recebendo e dando amor um para o outro. Não conseguíamos tirar o olho dela, sobrancelha desenhada, bochechas rosadas, delicada, fofa, calma. Eu sentia uma força muito grande, consegui parir, e agora ela está aqui nos nossos braços! Que mágico!
As enfermeiras vieram avaliar meu sangramento, minha pressão e se houve laceração. Precisei de uns pontinhos, foi desconfortável, mas rápido. Elisa foi avaliada, pesada, e teve o cordão cortado pelo pai. Pesou 3.300g e 47 cm de comprimento. Tudo certo com nós. A equipe ficou mais umas três horas, aproximadamente,registrando, arrumando a casa, fizeram uma sopinha e também um chá. Cobriram o Lu que dormia no sofá. Me ajudaram a ir ao banheiro antes de irem embora. A equipe foi maravilhosa, nos cuidou, respeitou e deu carinho até o último minuto.
Depois que elas foram embora, eu e Elisa seguimos deitadas na cama, nos cheirando, olhando, conversando, ali a emoção tomou conta de mim e chorei. Chorei de emoção, de alivio, de gratidão, da certeza de que tínhamos feito a escolha certa em proporcionar um nascimento respeitoso, calmo e seguro no nosso lar. E dormimos juntas, o Lu continuou no sofá.